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Foto do escritorArquidiocese de Pelotas

A LÓGICA DO MAIOR: SERVIR





Ó Abbá, a proximidade de vida, que os Doze Apóstolos que escolhi e constitui como colégio episcopal, alicerces da minha Igreja, cada dia crescia mais. Chegou ao ponto que Tiago e João, filhos de Zebedeu, se aproximaram de mim e me solicitarem: “Mestre, queremos que faças por nós o que vamos pedir”. Claro, dei abertura a eles e respondi: “O que quereis que eu vos faça?” Os dois irmãos, então, expressaram o seu pedido: “Deixa-nos sentar um à tua direita e outro à tua esquerda, quando estiveres na tua glória”. Confesso, Abbá, que estava esperando outro pedido dos dois. Já era hora de pedir algo mais centrado na missão, do que ficar preocupados com o lugar à minha direita e à minha esquerda. Quão “terrenos” ainda se encontravam os Doze Apóstolos, especialmente os dois filhos de Zebedeu.

A partir do pedido de Tiago e João, ó Abbá, fui obrigado a deixar novamente claro o que é essencial para a missão dos Doze Apóstolos, constituídos para serem os alicerces da minha Igreja. Constituídos para anunciarem o Reino de Deus irrompido em mim. Primeiramente tive até repreender os dois discípulos, Tiago e João, afirmando: “Vós não sabeis o que pedis”. Usei, logo a seguir, a dinâmica da nossa cultura hebraica, e coloquei duas questões: “Por acaso podeis beber o cálice que eu beber? Podeis ser batizados com o batismo com que vou ser batizado?”

Curioso que os dois irmãos responderam às minhas questões: “Podemos”. Seu afã de sentar-se um à direita e outro à esquerda era tão grande que sua resposta foi logo positiva. Tive que retrucar-lhes: “Vós bebereis o cálice que eu devo beber, e sereis batizados com o batismo com que eu devo ser batizado, sim, mas não depende de mim conceder o lugar à minha direita ou à minha esquerda... isso é para aqueles a quem foi reservado”.

“Beber do cálice que devo beber”, faz parte, ó Abbá, da minha missão de irromper o nosso Reino, o Reino de Deus. Faz parte da missão dos Doze Apóstolos, os alicerces da minha Igreja. Beber do cálice, é o caminho da cruz: o martírio de sangue. E não é fácil! Até eu, quando fui chamado a “beber do cálice” no Horto das Oliveiras, rezei: “Pai, afasta de mim este cálice, contudo faça-se a tua vontade”. E como foi a tua vontade, já não titubiei: bebi do cálice, fiz o caminho da cruz e vivi o martírio de sangue.

Isso, fez, ó Abbá, eu “ser batizado”. Fui imerso no sangue da salvação na cruz e da morte surgiu a ressurreição. Esse batismo obedece a realidade do “grão que não morre, não produz frutos”, como fui ensinando aos meus seguidores. Esse batismo é o novo batismo, também em relação ao de João, o meu precursor: não o batismo da carne, mas o batismo do espírito.

Deixado tudo claro aos dois filhos de Zebedeu, qual foi minha segunda surpresa: os demais dez apóstolos, também mostraram a sua não-compreensão da irrupção do Reino de Deus em mim. Reino que passa pelo martírio de sangue e do batismo da morte e ressurreição. Mais, eles chegaram a ser mesquinhos: “Indignaram-se com João e Tiago”. Afinal, como os dois ousam pedir os lugares à direita e à esquerda, se nós também temos o mesmo direito. Resulta daí uma verdadeira competição de lugar!

Então, ó Abbá, fui obrigado a chamar a todos perto de mim e usar palavras ainda mais claras. Falei-lhes: “Vós sabeis que os chefes das nações as oprimem e os grandes as tiranizam”. Nelas, onde impera o “reino do mundo”, opera a lógica da competição para ser o maior. Falei-lhes mais: “Mas, entre vós, não deve ser assim: quem quiser ser grande, seja vosso servo: e quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos”. No Reino de Deus, ao contrário do “reino do mundo”, opera a lógica do serviço para ser o maior. Portanto, duas lógicas opostas!

E, para finalizar minhas palavras claras aos Doze Apóstolos, acabei dando-lhes o meu testemunho: o Reino de Deus que está irrompendo em mim, é porque eu, como Filho de Deus, “não vim para ser servido, mas para servir e dar a minha vida como resgate para muitos”. Eis a lógica do Reino de Deus: servir e não ser servido. Eis a lógica do maior: servir!

 

Dom Jacinto Bergmann,

Arcebispo de Pelotas.

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