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Foto do escritorArquidiocese de Pelotas

GRATIDÃO COMO REMÉDIO PARA O RESSENTIMENTO

Precisamos deixar Deus mais presente em nossa vida. É Ele, cujo amor é ilimitado e incondicional, que dissolve em nós os ressentimentos, e nos torna livres para amar sem a necessidade de precisar agradar ou merecer aprovação. O ressentimento é o fruto amargo da necessidade de agradar e merecer aprovação.

Mesmo que achamos que somos incapazes de nos libertar dos ressentimentos, podemos e devemos deixar Deus nos encontrar e nos curar por seu amor através da prática concreta e diária da gratidão. Sim, a gratidão é a matéria de nossa conversão dos ressentimentos.

Ressentimento e gratidão não podem coexistir, uma vez que o ressentimento impede a percepção e o reconhecimento de vida como um dom. Meus sentimentos me dizem que não recebo agrado e aprovação; acabo sentindo sempre inveja.

Gratidão, entretanto, vai além do “meu” e do “teu” e proclama a verdade que a vida é puro dom. Gratidão não é somente uma resposta espontânea ao tomar conhecimento de um dom recebido. A gratidão é uma disciplina. A disciplina da gratidão é o esforço explícito para reconhecer que tudo o que sou e tenho é dado a mim como um dom de amor, um dom para ser celebrado com alegria.

Gratidão como disciplina envolve uma escolha consciente. Posso e devo ser grato mesmo quando minhas emoções e sentimentos estejam ainda impregnados de mágoa e ressentimento. É incrível quantas ocasiões surgem em que posso optar pela gratidão em vez de lamúria. Posso preferir ser agradecido quando sou criticado, mesmo quando meu coração ainda responde com amargura. Posso optar por falar de bondade e beleza, mesmo quando interiormente ainda procuro alguém para acusar ou algo para achar ruim e feio. Posso escolher ouvir as vozes que perdoam e olhar os rostos dos que sorriem, mesmo enquanto ainda ouço vozes de vingança e vejo trejeitos de ódio.

Existe sempre a possibilidade da escolha entre os ressentimentos e a gratidão quando deixo Deus me encontrar, deixo Deus entrar na minha vida, deixo Deus iluminar minhas trevas, deixo Deus olhar nos meus olhos. Então, também existe a possibilidade de eu olhar nos olhos d’Aquele que veio para iluminar para que eu possa ver que tudo o que sou e tenho é pura dádiva e merece gratidão.

A opção pelo agradecimento poucas vezes ocorre sem verdadeiro esforço. Mas, todas as vezes que faço essa opção, a próxima se torna mais fácil, mais livre, mais consciente. Porque cada graça que agradeço se abre para outra e mais outra, até que, finalmente, o mais aparentemente mínimo acontecimento ou encontro resulta em algo repleto de graça. Há um provérbio estoniano que diz: “Quem não agradece o pouco não agradecerá o muito”. Atos de gratidão fazem que a pessoa se torne agradecida porque, passo a passo, mostra que tudo é graça.

A gratidão é o remédio eficaz para o ressentimento.


Dom Jacinto Bergmann, Arcebispo Metropolitano da Igreja Católica de Pelotas.



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