Se há uma oração que é enormemente aprendida e rezada, é a oração do “Pai-nosso”. Aprende-se e reza-se essa oração, pessoal e comunitariamente. Sabe-se que é a oração que Jesus de Nazaré ensinou aos seus discípulos e com eles começou uma corrente de ensino atravessando séculos de gerações. Chegou, assim, também à nossa geração!
Porém, o principal acento que Jesus de Nazaré deu, ensinando a oração do “Pai-nosso”, muitas vezes não esteve presente. Ele não ensinou com o “Pai-nosso” uma fórmula de oração, no sentido de uma composição meramente literária. Esse acento de apenas uma “fórmula”, está presente quando nós dizemos: “vamos rezar a oração do ‘Pai-nosso’ por isso ou aquilo”, ou “vamos rezar a oração do ‘Pai-nosso’ neste momento” e tantas outras maneiras parecidas.
O acento de Jesus de Nazaré, na verdade o único acento, ensinando a oração do “Pai-nosso”, é o de ensinar “como rezar” - “um caminho de oração”. Foi justamente para responder ao desejo dos seus discípulos de que os ensinasse a rezar, que Jesus de Nazaré os ensinou “como rezar” – “um caminho de oração”.
Sabemos que oração é um relacionamento com Deus. É um caminho de relação com Deus: deixar Ele se relacionar conosco e nós nos relacionarmos com Ele. Rezar corretamente é relacionar-se com Deus no amor e na verdade.
No caminho de oração, presente no Pai-nosso, temos o caminho do relacionamento verdadeiro de Deus para conosco e de nós para com Ele. Como relacionar-se verdadeiramente, no amor e na verdade, com Deus? Jesus o ensinou assim:
Primeiro: “Pai nosso”, isto é, Deus quer relacionar-se conosco e pede que nós nos relacionemos como Ele como “Pai”. E relacionar-se com Deus-Pai é fazê-lo próximo de nós como fonte de vida. Isso requer que nós nos comportemos como filhos de Deus, logo, como irmãos uns dos outros.
Segundo: “Que estais nos céus”, isto é, Deus quer relacionar-se conosco e pede que nós nos relacionemos como Ele como “Senhor”. E relacionar-se com Deus-Senhor é fazê-lo soberano de toda a criação – Senhor do Universo. E isso requer que nós sejamos os cuidadores da Casa Comum.
Terceiro: “Santificado seja o vosso nome”, isto é, Deus quer relacionar-se conosco e pede que nós nos relacionemos com Ele como “Santo”. E relacionar-se com Deus-Santo, é torná-lo razão de ser de todo o existente. Isso requer que nós vivamos de tal modo que tudo se torne digno e assim santifiquemos o seu nome; encontremos unicamente Nele a razão de ser.
Quarto: “Venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu”, isto é, Deus quer relacionar-se conosco e pede que nós nos relacionemos com Ele como “Rei”. E relacionar-se com Deus-Rei, é fazê-lo soberano da humanidade como a única plenitude. Isso requer de nós buscarmos somente Nele o sentido da vida nossa e dos outros.
Quinto: “O pão nosso de cada dia nos dai hoje”, isto é, Deus quer relacionar-se conosco como Amor, na nossa relação de partilha com os irmãos. Relacionar-se com Deus-Amor, requer de nós a partilha e não o acúmulo, para que o “pão nosso de cada dia, esteja à disposição de todos.
Sexto: “Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”, isto é, Deus quer relacionar-se conosco como Amor, na nossa relação de perdão com o próximo. Relacionar-se com Deus-Amor, requer de nós o perdão mútuo e a luta contra todas as desigualdades.
Sétimo: “E não nos deixeis cair em tentação”, isto é, Deus quer relacionar-se conosco como Amor, na nossa relação de prudência conosco e com os irmãos. Relacionar-se com Deus-Amor, requer de nós não sermos tentação para os outros e também fugir das tentações que vem dos outros; trata-se da tentação de não sermos “imagem e semelhança de Deus” uns para com os outros.
Oitavo: “Mas, livrai-nos de todo o mal”, isto é, Deus quer relacionar-se conosco como Amor, na nossa relação de liberdade de filhos de Deus. Relacionar-se com Deus-Amor, requer de nós nenhum pacto com o “espírito do mal” que somente nos escraviza; o nosso pacto somente é com Deus-Pai, com Deus-Soberano, como Deus-Santo, com Deus-Rei, com Deus-Amor.
A oração do “Pai-nosso” não é uma fórmula, é algo mais: é o caminho de oração ensinado pelo Filho de Deus, Jesus de Nazaré.
Dom Jacinto Bergmann, Arcebispo Metropolitano da Igreja Católica de Pelotas.
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