A pandemia parece ter acelerado uma realidade que já vínhamos percebendo antes: a pouca participação em muitas de nossas comunidades. Tomam-se iniciativas para fazer vir mais pessoas às celebrações da Missa e da Palavra. Utilizamos os meios sociais para chamar, para o lembrete de última hora; buscamos estratégias para que os catequizandos, com os pais ou responsáveis, também venham.
Há por certo muitos fatores a serem analisados para entender a resistência dos batizados em fazer o que teria que ser algo normal na vida semanal: a participação nas celebrações comunitárias. Será que não é hora de olhar de modo mais profundo para essa realidade?
A atração faz crescer – Muitas vezes me vem à mente uma frase utilizada pelo Papa Bento XVI, recentemente falecido. Tal frase tem sido repetida também pelo Papa Francisco: “A Igreja cresce não por proselitismo, mas por atração”. É uma frase provocante e, me parece, toca na raiz da problemática. Será que nossa vida em comunitária é atraente? Precisamos olhar para além dos momentos celebrativos. É preciso olhar o todo: a vida comunitária dos seguidores de Jesus Cristo. Se é gostoso e faz bem viver em comunidade, então automaticamente vem o desejo de celebrar tal experiência. Se não sinto necessidade de alimentar minha fé em comunidade e de me encontrar com irmãs e irmãos de fé, então falta a motivação que me faz sair de casa e deslocar-me para o templo.
Primeiros cristãos – Os textos bíblicos das celebrações deste tempo pascal nos ajudam a sentir o pulsar do coração dos primeiros cristãos, e o ritmo de vida das primeiras comunidades cristãs. Ouvimos nos evangelhos relatos marcantes das aparições do Ressuscitado. Caminhando com os decepcionados discípulos de Emaús e escutando uma ladainha de lamentações, o Ressuscitado renovou seus sonhos; acalmando os Onze apóstolos, tomados pelo pavor e trazendo-lhes a paz, ele os fez testemunhas da ressurreição; aparecendo a Maria Madalena, lhe confia a missão de ser “apóstola dos apóstolos”, como diz Papa Francisco.
Lucas apresenta pelo menos duas fotografias da vida das primeiras comunidades (At 2,42-47 e 4,32-37). Eles viviam unidos, alimentados pelos ensinamentos dos apóstolos, tinham “um só coração e uma só alma”, rezavam e frequentavam o templo. A fé era tão viva e levava a tal unidade que espontaneamente abriam mão de bens e propriedades. “Ninguém considerava como próprias as coisas que possuía, mas tudo entre eles era posto em comum” (4,32). “Vendiam suas propriedades e seus bens e repartiam o dinheiro entre todos, conforme a necessidade de cada um” (2,45).
Era contagiante – Como é que o povo via tudo isso? O que os de fora diziam? “Os fiéis eram estimados por todos”, e “entre eles ninguém passava necessidade” (4,33s). Tal modo de vida era contagiante, e o número dos membros da comunidade aumentava cada dia (cf. 2,47). A alegria, a satisfação de estarem juntos e o modo de relacionar-se dos cristãos chamava a atenção dos de fora. Era um verdadeiro contágio positivo! Atraía por si mesmo. Ninguém precisava fazer propaganda e nem convidar para vir para a missa... O modo de viver era o de pessoas novas, convertidas e possuídas pelo Espírito. Buscavam “as coisas do alto”, e não as “coisas terrestres” (Col 3,1s).
É ilusão? É possível? – Num país onde, de cada cem batizados, apenas oito participam das celebrações semanais da comunidade e alimentam sua vida na oração e da Palavra de Deus, o que dá para esperar? A vida dos oito por cento tem poder de atração? É capaz de atrair os outros 92 por cento? Quando vamos conseguir trazer para a fé cristã aquele filósofo ateu que, diante de uma comunidade de fiéis reunida, disse: “O dia em que eu enxergar no rosto de vocês que Jesus ressuscitou, então vou acreditar Nele”?
Deus seja bendito!
Pe. Aldino J. Kiesel, O.S.F.S.
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