“Se me matarem renascerei na luta do povo.”
São Oscar Romero
Talvez o único mártir universal, tanto no sentido temporal e espacial, tenha sido Jesus Cristo, visto que em geral compreendemos e aceitamos racionalmente a concepção de martírio a partir de uma vida que é entregue por uma causa humanitária – com fundo religioso ou não – sendo esta causa circunscrita a um determinado espaço, território e a uma determinada época.
A questão fundamental em nossa época é a ocorrência de uma causa a ser lutada, uma causa a ser enfrentada que é universal do ponto de vista espacial e se avizinha também com ares de eternidade no plano temporal. A pandemia denominada “Covid 19” decorre de uma escalada predatória sobre os recursos naturais do planeta, através de queimadas, desmatamentos, poluições em geral e que não sinalizam nenhuma esperança de trégua, apesar de alguns esforços teóricos e muito pouco pragmáticos. De outra parte esta pandemia não pode ser “resolvida” na Nova Zelândia e continuar persistindo no Paraguai e principalmente, ser “resolvida” nos Estados Unidos e continuar dizimando a população no Brasil. O tempo caótico que vivenciamos é universal e atemporal.
A questão que se coloca de forma urgente e até dramática, neste período que celebramos a Páscoa de um mártir universal é:
QUE MARTÍRIO ESTE TEMPO PRECISA?
Para tentar responder à questão formulada e que dá título a este pequeno artigo se faz necessário e honesto, inclusive perguntar antes: Será que esta própria época já não representa um martírio? Em caso afirmativo já estaríamos sofrendo um “castigo divino” ou um “castigo da natureza” (ou ambos, pois não se diferem) em relação às consequências maléficas que a humanidade vem causando ao planeta, propiciando aquecimento global e descontrole viral.
Meu entendimento é que não existe martírio como sinônimo de castigo, mas sim como sinônimo de luta. Ninguém se martiriza verdadeiramente para se aprisionar em uma dor eterna, para se libertar de uma espécie de pecado individual ou até mesmo universal. O martírio é consequência de uma consciência coletiva em que algumas pessoas contribuem de forma mais efetiva na luta popular empreendida; um ou alguns com a própria vida, podendo assim ser considerado um mártir daquela causa.
São Oscar Romero em suas últimas palavras profetizou que renasceria na luta de seu povo, pois sabia que era somente uma partícula de uma luta universal contra a desigualdade e injustiça universal.
Creio que é desta espécie de mártires que precisamos. Mártires universais, porém antes precisamos com urgência de consciência coletiva e luta popular.
Que a Páscoa se faça no povo e nas consciências que precisam de vida em plenitude.
Reinaldo Tillmann
Coordenador Cáritas de Pelotas
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