Ó Abbá, uma grande multidão foi-se reunindo em torno de mim na minha itinerância pela Galileia costeando o Lago de Genezaré. Lancei um olhar em profundidades sobre essa multidão. O que ela buscava? O que ela esperava? Será que era a hora de anunciar-lhe quem são os bem-aventurados do Reino de Deus?
Subi ao monte localizado perto de Cafarnaum. Nesse subir ao monte, eu queria expressar claramente que eu vinha de Ti, Abbá, e como seu Filho agir e falar com força divina. Mais, sentei-me, e nesse gesto também queria expressar que estava assumindo a posição de ensinar como mestre. De fato, os discípulos se aproximaram e assim pude começar a ensiná-los. Fui movido interiormente a anunciar o cerne da nossa Boa-Nova: os bem-aventurados do Reino de Deus. Ao designar os bem-aventurados, eu tinha bem presente a contrapartida de cada bem-aventurança. Diante da proposta do “reino do mundo”, qual é a proposta do Reino de Deus?
O “reino do mundo” valoriza a força própria do TER… para assegurar o reino da terra. Mas bem-aventurados no Reino de Deus são os pobres em espírito, isto é, desprovidos da força própria do ter, para em Deus ter a força do partilhar. Esses já são na prática os possuidores do Reino dos Céus. Nós, ó Abbá, garantimos a nossa presença na PARTILHA!
O “reino do mundo” valoriza a força própria do PODER… para assegurar a terra como propriedade egoísta. Mas bem-aventurados no Reino de Deus são os mansos, isto é, desprovidos da força própria do poder, para em Deus ter a força do servir. Esses são herdeiros da terra como dom de Deus colocado a serviço. Nós, ó Abbá, garantimos a nossa presença no SERVIÇO!
O “reino do mundo” valoriza a força própria do APROVEITAR-SE… para assegurar unicamente o prazer egoísta. Mas bem-aventurados no Reino de Deus são os aflitos, isto é, desprovidos da força própria do gozar, para em Deus ter a força do amar. Esses serão verdadeiramente consolados. Nós, ó Abbá , garantimos a nossa presença no AMOR.
Com as três primeiras “bem-aventuranças do reino do mundo”, instaura-se com o mero TER, o mero PODER e o mero APROVEITAR-SE um desejo insaciável de INJUSTIÇA... para acumular sempre mais força própria do ter, do poder e do aproveitar-se. Mas bem-aventurados no Reino de Deus são os que têm fome e sede de justiça. Esses serão saciados. Só a justiça (que provém do partilhar, do servir e do amar) sacia verdadeiramente. Nós, ó Abbá, garantimos a nossa presença na JUSTIÇA!
O “reino do mundo” valoriza a força própria da COMPETIÇÃO… para assegurar a segurança pessoal (nada de “transparecer fraqueza”). Mas bem-aventurados no Reino de Deus são os misericordiosos. Esses alcançarão misericórdia. Nós, ó Abbá , garantimos a nossa presença na MISERICÓRDIA!
O “reino do mundo” valoriza a força própria da FALSIDADE… para assegurar a imagem pessoal (nada de “ser ingênuo”). Mas bem aventurados no Reino de Deus são os puros de coração. Esses, verão a Deus. Nós, ó Abbá, garantimos a nossa presença na RETIDÃO!
O “reino do mundo” valoriza a força própria da PREPOTÊNCIA… para assegurar o direito próprio (nada de “ser mole”). Mas bem-aventurados no Reino de Deus são os que promovem a paz. Esses serão chamados filhos de Deus, isto é, agem como Tu, que és a paz. Nós, ó Abbá, garantimos nossa presença na PAZ.
Assim, como as três primeiras “bem-aventuranças do reino do mundo”, também com as três anteriores, instaura-se com a COMPETIÇÃO, a FALSIDADE e a PREPOTÊNCIA um reino de injustiça. Mas bem-aventurados no Reino de Deus são os que são perseguidos por causa da justiça: lutando pelo Reino da MISERICÓRDIA, da RETIDÃO e da PAZ. Deles é o Reino dos Céus. Nós, ó Abbá , garantimos a nossa presença no REINO DA JUSTIÇA!
Conclui o meu ensino, deixando claro aos discípulos que eles não são bem-aventurados quando todos os aprovam e bajulam, mas quando serão injuriados, perseguidos e falarem mal contra eles por causa de mim. Este será o momento de eles alegrarem-se e exultarem porque possuem um sentido maior: Não o bem estar terreno, mas a grande recompensa nos Céus.
Dom Jacinto Bergmann, Arcebispo de Pelotas.
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