Vivenciamos mais um mês de maio. Por acontecer, no segundo domingo, o dia internacional da mãe, todo mês de maio recebe o caráter de mês das mães. E para nós cristãos, de modo singular, o mês da Mãe do Filho de Deus e Mãe da Igreja de Cristo, Maria de Nazaré. No último dia, 31 de maio, celebramos a Festa da Visitação de Maria à Isabel.
Esta Festa da Visitação celebra a visita de Maria de Nazaré, por iniciativa dela, à sua prima Isabel de Belém. Ambas mulheres estão grávidas, uma do Messias, o Filho de Deus, e outra do precursor do Messias, o Filho de Deus. As duas estavam, pois, portando em seus seios duas vidas planejadas por Deus. Deu agiu nelas de maneira divina, servindo-se do humano.
Assim a visita dessas duas mulheres foi uma visita de duas teóforas – da língua grega, significando “portadoras de Deus”. Isso fez da visita delas um encontro eminentemente humano-divino, bem expresso pela sua forma, assim narrada pelo Evangelho de Lucas nas Sagradas Escrituras: “Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, ao entrar na sua casa, a criança pulou no seu ventre (nas suas “entranhas”), ficou cheia do Espírito Santo e exclamou: ‘Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! (tuas “entranhas”)’. Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar? Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre (minhas “entranhas”). Bem-aventurada aquela que acreditou porque será cumprido, o que Senhor lhe prometeu”. Maria, porque não concluir, também movida pela criança que pulou no seu ventre (suas “entranhas”), então pronunciou o seu cântico, que, sem dúvida, se tornou um dos maiores cânticos da humanidade: “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque olhou para a humildade de sua serva, doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada, porque o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor. O seu nome é santo e sua misericórdia se estende, de geração em geração, a todos que o temem”.
Duas teóforas, “portadoras de Deus”, se visitando. Isso faz pensar em nossas visitas. Primeiro, as nossas visitas neste momento, com a pandemia, que meio cessaram: como fazem falta!; segundo, como eram nossas visitas antes da pandemia, quando eram totalmente permitidas: talvez eram sem consciência e puramente levianas?; terceiro, como sonhamos com o retorno de nossas visitas, assim que a pandemia tenha cessada, as quais estão sendo, sem dúvida, muito desejadas: como somos desafiados a fazê-las?
Ah, como não acalentar um sonho de visitas teóforas! A pandemia, entre tantas coisas, quer nos ensinar “novas” visitas que sejam teóforas: “portadoras de Deus”. Visitas não vazias e fúteis, mas visitas plenas e marcantes. Pois, visitas teóforas são “entranhadas” de alegria e deixam marcas na história e para a eternidade.
Ah, como não acalentar um sonho de visitadores/as teóforos/as! Deus queira que a pandemia gere milhares de teóforos/as espalhados/as no nosso planeta terra. Visitadores/as não vazios, indiferentes, interesseiros, dominadores, mas plenos, sensíveis, generosos, promotores. Pois, visitadores/as teóforos/as são seres criados “à imagem e semelhança de Deus”, irmãos/ãs uns dos/as outros/as, que quando se encontram, suas “entranhas” pulam de alegria e geram uma história nova para uma eternidade feliz.
A civilização pós-pandêmica tem urgência de visitas teóforas e visitadores/as teóforos/as!
Dom Jacinto Bergmann, Arcebispo Metropolitano da Igreja Católica de Pelotas.
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