Ele já caminha devagar. Embora suas feições continuem exalando a mesma simpatia, seus traços demonstram o cansaço de uma agenda pesada para alguém da sua idade. Completando 83 anos em dezembro, na sua visita pelo Oriente, o papa Francisco mostrou sua capacidade profética - tão necessária aos nossos tempos - incentivando diálogo fecundo entre católicos e budistas, na Tailândia; e pedindo aos religiosos que vivam um "tempo de ousar a lógica do encontro e do diálogo", no Japão.
Viagem preparada com a marca pastoral de Francisco. Na Tailândia, foca seu discurso na exploração sexual, resultado de um turismo que permite esta chaga que coloca em risco a dignidade da mulher, da criança e de um bom número jovens. No Japão, a preocupação centrou-se na visita a Nagasaki e Hiroshima, cidades devastadas por bombas nucleares americanas, havendo necessidade de reconsiderar o tema dos conflitos bélicos, para evitar o que chamou de "suicídio da humanidade".
Das muitas imagens conhecidas hoje sobre as dores passadas pela população civil daquelas cidades, Francisco destacou a do menino que transportava o corpo do seu irmãozinho já sem vida, depois do bombardeio nuclear. “Uma imagem deste tipo”, alertou, “comove mais do que mil palavras”. Mas, também, precisa interrogar as consciências e se transformar numa advertência à comunidade internacional para encontrar formas de evitar que estes genocídios voltem a acontecer.
Na juventude, Jorge Mario Bergoglio (atual papa Francisco) sonhava em ir ao Japão como missionário. Passa, agora, por terras onde o fenômeno do isolamento e da desesperança entre os jovens é muito forte. É hora em que sua capacidade profética e de pastoreio estimulam os cristãos a dar sentido à atividade das próprias Igrejas, com dificuldades para evangelizar naquela área, pela negação de fundamentalistas, até com a morte de seus seguidores, minoria naqueles países.
O papa tem os pés na Ásia e os olhos no comportamento do seu rebanho nos demais continentes. Sabe que seu profetismo é causa de divisões, já que a estrutura da sua Igreja se tornou burocrática, perdendo o sentido da sua missionariedade e da atividade pastoral. Como em países onde, até bem pouco tempo atrás, seus pronunciamentos tinham repercussão na mídia e na sociedade - caso do Brasil - e hoje não merecem atenção, se perdem na vala das notícias consideradas sem importância.
Vida longa ao profeta Francisco... Quando transporta uma bolsa com seus pertences nas mãos ao subir ou descer de um voo é a imagem que se precisa para acreditar que nem tudo está perdido. Não somente para católicos, mas, para homens e mulheres de religião: há um profeta entre nós, denunciando as mazelas da humanidade... também um pastor cuidando de tantas feridas abertas, feridas que não vertem sangue, mas transformam em chagas a indiferença, a violência, as tristezas, o desamor...