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Foto do escritorArquidiocese de Pelotas

OS CHAMADOS DO AMOR

A Pandemia da COVID19, obrigando-nos a ficarmos mais próximos, fez emergir novamente o essencial do SER humano: somos feitos para ser o amor, pois fomos feitos à imagem e semelhança de Deus –Amor; fez emergir o essencial do VIVER humano: somos feitos para viver o amor, pois fomos feitos como filhos/filhas de Deus-Amor e irmãos/irmãs em Deus-Amor.

A pandemia da COVID19, retornando ao essencial de SER e VIVER humanos, está chamando para a vivência do amor. É hora de valorizar o amor, de purificar o amor, de efetivar o amor. Mais do que nunca, o amor, decididamente, está chamando a humanidade tão ferida pelo coronavírus. No entanto, é necessário identificar os chamados do amor.

Já na sua época, o grande escritor, Gibran Kahlil Gibran, identificou alguns chamados do amor. No atual estágio pandêmico humano, esses seus chamados voltam a ter sua pertinência: o chamado a crer no amor, o chamado a sofrer por amor, o chamado a deixar-se transformar-se pelo amor, o chamado a tornar-se livre com o amor.

Os chamados do amor estão bem delineados no escrito “O Amor” do grande escritor:

Quando o amor chama sigam-no, mesmo que tenha caminhos pedregosos e íngremes. E, quando lhes fala, creiam nelemesmo que sua voz possa dissipar os sonhos de vocês, como o vento norte devasta o jardim. (O chamado a crer no amor).

Pois da mesma forma que o amor exalta vocês, assim os crucifica, e da mesma forma que os faz amadurecer, assim os podará. (O chamado a sofrer por amor).

Ele entrega vocês ao seu fogo sagrado para que sejam o pão santo da mesa de Deus. Tudo isso realiza o amor em vocês, para que conheçam o segredo do coração de vocês e possam tornar-se um fragmento do coração da Vida. O amor não dá nada além de si próprio e nada colhe senão em si mesmo. (O chamado a deixar-se transformar-se pelo amor).

O amor não possui nem desejaria ser possuído, porque o amor é suficiente ao amor. E não pretendam dirigir o amor, porque, se os encontrar dignos, será ele quem os conduzirá. O amor deseja somente consumar-se!” (O chamado a tornar-se livre com o amor).

Uma humanidade que desaprendeu a crer no amor, não pode deixar, nesta pandemia, de ouvir o forte chamado de novamente crer no amor. Francisco, o santo de Assis, já precisou no seu tempo, que o “o amor não é amado”. Crer no amor, na verdade, é amar o próprio amor. É possível sonhar, junto com as vacinas anti-covídicas, que a humanidade tomará, também e principalmente, a vacina do chamado a crer no amor?

Uma humanidade que começou a ter medo de sofrer por amor, não pode deixar, nesta pandemia, de ouvir o forte chamado de novamente sofrer por amor. Infelizmente concebe-se a felicidade como fuga do sofrimento. Sofrer por amor, no entanto, é sinônimo de felicidade, basta olhar para o Crucificado. É possível sonhar, junto com as vacinas anti-covídicas, que a humanidade tomará, também e principalmente, a vacina do chamado a sofrer por amor?

Uma humanidade que deixou de apostar na força transformadora do amor, não pode deixar, nesta pandemia, de ouvir o forte chamado de novamente deixar-se transformar pelo amor. Aposta-se tanto na força da transformação pelo mero ter mais, pelo mero poder mais, pelo mero aproveitar-se mais. Deixar-se transformar pelo amor, isso é viver a plenitude. É possível sonhar, junto com as vacinas anti-covídicas, que a humanidade tomará, também e principalmente, a vacina do chamado a deixar-se transformar pelo amor?

Uma humanidade que optou pela escravização da ferida do não-amor, não pode deixar, nesta pandemia, de ouvir o forte chamado de novamente tornar-se livre com o amor. A insensibilidade, a indiferença e o desprezo instalam o pecado da desumanização. Tornar-se livre com o amor, em contrapartida, é a antecipação do “paraíso da liberdade dos filhos de Deus”, como já entendia Paulo de Tarso. É possível sonhar, junto com as vacinas anti-covídicas, que a humanidade tomará, também e principalmente, a vacina do chamado a tornar-se livre com o amor?


Dom Jacinto Bergmann, Arcebispo Metropolitano da Igreja Católica de Pelotas.


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